sábado, 1 de dezembro de 2007

Não posso viver sem meu vício de criar.

Ou virtude, julgue como quiser, só sei de uma coisa: eu crio, diante a todas as dificuldades habitantes de cada momento, eu preciso criar, diante meu tédio e minha preguiça, desde pequeno quando a criação se resumia na simplicidade de cada céu criado dentro de poucas palavras, ou uma escultura brilhante feita de cartolina e rolo de papel higiênico, ou aquela coisa feita de barro na pré-alfabetização que, por causar vergonha em meus professores, foi jogada fora com a desculpa de que foi perdida, desde esta época o importante para mim foi a criação...
Inutilidades... crescer, nascer, reproduzir, morrer, eis a Grande Arte forjada pelas mãos do acaso, e nós não absorvemos, talvez, nenhum sentido entregue à proporção áurea do pentagrama, não compreendemos nenhum motivo movendo as movimentações do vento, lançamos vôo à razão negando as gnoses e deparamos com a queda do abismo, com o vácuo entre as estrelas, deparamos como os heterônimos de Fernando Pessoa ao nada escrito nas paredes da racionalidade...
Quando, neste rodamoinho de informações conectadas ao inexistente podemos nos ver como a arte, sem nenhuma utilidade, sem nenhum porquê, é quando cansados nos entregamos humildemente à imensidão misteriosa da música e ouvimos a nossa dor, é quando ébrios de sobriedade nos entregamos aos espelhos das metáforas e vivemos como se morrêssemos para o sentido mercadológico de existência. E contemplamos o belo...
Nunca quis ser útil, nunca quis viver ligado às pressões da vida contemporânea, ao vestibular, ao ser alguém na vida, à ilusão da importância, antes queria estar jogado à solidão de sustentar o próprio mundo... Jovem Átlas na melancolia de Goiânia esperando um ônibus, buscando funções metalingüísticas para seu texto e sendo dia após dia tantalizado com a estética, quero me entregar à inutilidade de criar, de inventar artrópodes com os verbos, de descobrir a mim mesmo nas lágrimas das coisas inexistentes, e chorar por me descobrir feito delas...Posso te entender finalmente, delírio de meu panteísmo, finalmente eu posso entender o ápeiron, não só entender como tocá-lo, finalmente vejo a vossa existência, Deus, mesmo sendo na obscuridade de uma criação humana, e assim vejo que existir não há motivo e por isso, me entrego à minha missão escolhida pela minha essência de ser a sua imagem e semelhança, e criar...

É partindo disso que chegamos às nossas próprias estrelas proparoxítonas e abandonamos a lógica das coisas movimentadas...

Obrigado pela atenção,
Marra Signoreli

4 comentários:

Anônimo disse...

Nesse exato momento vc está criando diante de seu tédio e de sua preguiça!
Te amo jonh!

. disse...

que bonito, João.

Guilherme Toscano disse...

ah, joão. eu só me sinto completo quando termino de escrever algo que me agrada. espero que você consiga isso.

Marra Signoreli disse...

senti-me completo? Não, nunca...