sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Divagações lunares

aos 7 amigos da Delirium

Se existe, amigo, um século depois
O pólen morto e as sobras da existência,
Que sobrará de ti? Na vida sois

O mesmo grão, e após nem a ciência
Descreve o seu futuro e nem ninguém
Verá na tua próxima vivência...

O corpo será resto, tudo bem,
No entanto a mente, o cúmulo vital,
O que será do túmulo ao além?

Não vamos pensar nisso, o nosso mal
Apenas nisso se resume, a mente
Se esforça para ouvir o céu final,

E o céu... o céu tão longe... o céu não sente,
E um véu em nós se esconde como um grito,
Um grito claro e oculto e tão somente

Um grito disso tudo como o agito
Do mar em chão de estrelas, se resume
O grito em simples caco de infinito,

E apenas ele nos conforma, é o lume,
É a dor e o sono desta madrugada.
É como o inseto alegre que de azul me

Constrói em seus olhares, mas calada
A única verdade em vão nos cala
Nos reduzindo ao que nós somos: nada.

E fora a tudo isso a minha sala
Parece se importar a sós comigo
Com tudo ao seu redor e a transformá-la

Eu vejo acima o vôo de um amigo,
Meu pássaro insensível, mas fraterno
Parece de ilusão me dar abrigo...

E pouco a pouco saio deste inferno
Já não me importa a morte e nem o resto,
Apenas durmo, sonho em ser eterno,

Pois deste sonho necessito e presto
Ao meu orgulho fúnebre homenagem
Voltando a ser aquilo que detesto,

Um morto em plena vida na pastagem
Dos dias, mas sozinho vou, escrevo,
E me escrevendo nestas mãos que agem

Me busco inutilmente neste trevo
De quatro essências, uma me destrói
E as outras eu carrego enquanto levo

A única certeza que me dói:
Do dia à noite, vamos à vertigem
Nós todos ao escuro que corrói,

Daqui somente restará fuligem,
O túmulo, semente triste e pálida
Ouvindo do amanhã a sua origem

E se acabando sobre a Lua cálida,
Materno seio a morte tem, talvez
A vida seja apenas a crisálida

E após o amanhecer mais uma vez
A confortar então a nossa pele
Revele a eternidade e a sensatez

Do mundo novo que a visão repele,
Termino assim, na escuridão perdido,
Levando desta luz a letra l.

Pela atenção estou agradecido,

Marra Signoreli

5 comentários:

Anônimo disse...

Fantástica, João. Enjambments e um delírio na leitura... Poesia com preocupações bem definidas e formação de imagens em sucessão estonteante. Parabéns, meu caro.

Guilherme Toscano disse...

parabéns, meu caro.

pequena disse...

- "ah desculpe, foi engano.estava perdida por aqui, mas ...que texto!" =) O/

. disse...

=}

Guilherme Toscano disse...

paula paula =]