Rastejava uma figura grande e troncuda pelo gramado enlameado. Em um ritmo cadente, fincava e retraía as patas da esterqueira densa e marrom, maculada de gramíneas estúpidas. Caminhava, persistentemente, pelos horizontes repletos de exalações. A besta desafiava o ambiente em seu andar altivo. Cultivava os pêlos emporcalhados e o mau-cheiro dos fluídos e sebos corporais. Dissipava ao meio alguns ruídos assombrosos, interrompidos aleatoriamente por algum escarro grotesco. Vestindo alguns farrapos descorados, enganava o frio.
Isso sim é cultura!
A matéria andante, gradualmente, se aproximava do destino. Entrando na estrutura cavernosa de barro e madeira, soltou um fragor feroz, despondo-se dos panos velhos:
- Ô menina, vai preparar um café pro seu pai. Não se demore.
Uma fêmea descarnada, de olhar perdido e curioso, de afeições anêmicas, se apresentou na sala. (que desempenhava, também, o papel de quarto. Dos quatro cômodos, um.)
Dispunha de um tecido cilíndrico, de peça única, que servia para tampar todas as vergonhas, parcimoniosamente.
Isso sim é racionamento!
A mocinha, feia, da cor da terra, piou, em uma voz frágil, ainda que humilhante, como se cobrasse algo do pai:
- Tem café não.
O homem, cansado, sentou-se ao chão e cuspiu um olhar de censura, continuando a livrar os pés, cheios de bolhas, do couro cáustico das botinas. A cunhãzinha se abateu e foi para a cozinha, se adestrar no trabalho que lhe seria comum ao resto da vida.
Isso sim é psicologia!
A mãe, que era vaidosa, passou, ágil, pelo cômodo, dispersando gotículas de água de cheiro. Carcomento-se de ódio, o marido perguntou:
- Onde você vai?
- No armazém.
- E precisa dessa arrumação toda?
- Ara... Eu que não ia sair de casa toda fedida.
- Você não vai a lugar nenhum.
- O quê?
- Você não vai a lugar nenhum. Tá me ouvindo? A senhora não tem nada o que fazer no armazém.
A menina torta surgiu outra vez e intrometeu-se:
- Precisa sim, pai. Falta jabá, café, arroz...
O pai murmurou consigo:
- Ô menina burra...
O homem meteu-lhe um tapa vigoroso. A menina, desastrada, voou ao chão, de rosto inchado, marcado pela mão rude do pai. Chorando, recolheu-se ao quintal de argila, que cultivavam de trás da casa. O marido mandou a mulher para o quarto. A broaca obedeceu. Já cogitando a intenção de pular a janela e seguir ao armazém. (Que armazém?)
Por um instante, o varão olhou para o chão, como em uma lástima. Mas elevou a fronte rapidamente. Chamou a menina.
- Cadê sua vó?
- Tá lá fora, batendo manteiga.
- Chama ela pra mim.
Entrou na casa uma senhora lenta, encanecida e enrugada, fatigada da vida.
Espremeu um som de fastio:
- Que é, castigo?
- Mãe, vá lá comprar jabá e fumo no armazém.
Disse, estendendo um molho de notas trigueiras. A velha apanhou as notas e retorquiu:
- Eu não criei menino pra me dar ordem nenhuma.
Ainda assim, seguiu ao comércio. Isso sim é política!
O varão pesquisou um apoio com as mãos e sentou-se na cadeira de palha. Acendeu um cigarro e a consciência segredou-lhe:
- És um homem maduro.
terça-feira, 30 de dezembro de 2008
segunda-feira, 29 de dezembro de 2008
2009
não sei porque eu estou com um certeza bem forte de que 2009 será um ano foda. eu já estou com essa impressão há algum tempo, pois tive algumas ótimas notícias durante o ano que me levou a isso. shows fodas, minhas bandas preferidas voltando a ativa, o início do curso de publicidade, carteira de motorista, vários projetos musicais (um dia algum vai pra frente). não sei, mas estou com a impressão de que 2009 vai ser conhecido na minha vida como "o ano que deu certo". eu acredito tanto nisso que ao desejar um feliz ano novo pras pessoas, elas ficam mais alegres frente a minha certeza de que esse ano será um ano legal. tive uma prévia com meus futuros colegas de curso pouco antes de vir pra BH e tudo indica que será uma ótima turma. espero mudar de apartamento e quem sabe conseguir uma boquinha naquele esquema do diário da manhã que me ofereceram, se ainda estiver de pé. quero comprar uma tablet (mas fico feliz em usar a que o corvo comprou também), pra começar a fazer artes, tirinhas, animações, que é uma coisa que eu tenho vontade de fazer desde muleque quando eu lia os comborangers. quero fazer um curso de corel draw e de photoshop. não necessariamente agora, mas pode ser em outro ano. ah, e como pude me esquecer? tenho que fazer fisioterapias no joelho, depois entrar na academia para, no máximo até o segundo semestre, eu voltar a jogar basquete. e quero aumentar minha coleção de filmes e de livros (me dêem de presente, eu realmente não me importo de ganhar essas coisas). quero produzir arte de todas as formas: músicas, poesias, desenhos, fotos, filmes, festas. e quero me divertir com meus amigos e quero fazer novos amigos e refazer amizades antigas e quem sabe fazer novos inimigos. confesso que eu até gosto disso. emagrecer um pouco, seria legal também. e aprender a fazer mais coisas na cozinha, e fazer essas coisas! e comer, e engordar e emagrecer de novo. e tudo isso (ou quase tudo isso) em 2009. é, 2009 vai ser um ano foda.
Toscano, o Esperançoso.
Toscano, o Esperançoso.
quinta-feira, 4 de dezembro de 2008
Algo sem prova
Não consigo pensar qual o "o quê" das coisas(tudo). Quero dizer, o pensamento do nada pelo nada toma cada vez mais espaço.
Felizmente, por enquanto, isso não implica ações reais mas: e se assumo mesmo esse pensamento na prática? , bem, deve ser impossível.
O pensamento, não devo ter justificado bem até agora, mas tenho certeza que vocês também tem ao menos uma pitada dele. Tenho uma forte intuição de que nada se justifica a não ser por outras justificativas injustificadas (ou seja, não verdadeiramente justificadas) ((mas o que é "verdadeiramente")).
Acho que esse pensamento deve ter origem(em mim) de quando eu era mais novo e ouvi falar pela primeira vez do Mito da Caverna. Mas o Mito da Caverna me parece obsoleto agora, sempre que se encontrasse a verdade, não há nada que as definam como verdade.
Penso que qualquer religião seja um resumo mal feito para esses questionamentos de por quê existem as coisas e por quê são regidas por leis(leis físicas por exemplo).
Por quê a parede, o chão, as forças parecem tão normal às pessoas em geral?
Cansaram de pensar e simplesmente aceitam como é?
to be continued...
Felizmente, por enquanto, isso não implica ações reais mas: e se assumo mesmo esse pensamento na prática? , bem, deve ser impossível.
O pensamento, não devo ter justificado bem até agora, mas tenho certeza que vocês também tem ao menos uma pitada dele. Tenho uma forte intuição de que nada se justifica a não ser por outras justificativas injustificadas (ou seja, não verdadeiramente justificadas) ((mas o que é "verdadeiramente")).
Acho que esse pensamento deve ter origem(em mim) de quando eu era mais novo e ouvi falar pela primeira vez do Mito da Caverna. Mas o Mito da Caverna me parece obsoleto agora, sempre que se encontrasse a verdade, não há nada que as definam como verdade.
Penso que qualquer religião seja um resumo mal feito para esses questionamentos de por quê existem as coisas e por quê são regidas por leis(leis físicas por exemplo).
Por quê a parede, o chão, as forças parecem tão normal às pessoas em geral?
Cansaram de pensar e simplesmente aceitam como é?
to be continued...
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