quarta-feira, 3 de setembro de 2008

Quando eu me perdi

I
O celular toca e aí a gente acorda

De quem é essa luz? Entrando pela fresta da madrugada
Meus olhos num barco vão derretendo-se flores
Tudo é verso no subterrâneo, de quem é essa luz?
Depois do sonho a gente esquece tudo...

Perdi-me dos telhados nas esquinas
E a cada esquina eu vejo um Cristo morto,
Com céus e léus correspondentes, vejo
O vinho hoje jaz barato, o sangue
Perdeu-se e nós não vimos como foi.

Depois do sonho a gente esquece tudo...

Eu tenho insônia e só queria isso
Dizer, entendes? Nada mais eu quero,
É simples quando resumimos coisas
È só dormir e eu vou falar de novo
Eu tenho insônia, mas sonhei... estranho...

Depois do sonho a gente esquece tudo...

De quem é essa luz? Achaste a carta muda dos hermetismos?
A deusa num deixa a gente entender as coisas
Ela é linda nas captações e... de quem é essa luz?
Depois do sonho a gente esquece tudo...

A selva tenebrosa está jornada
Mas não no meio eu sou igual aos outros
Com cama, lama, deitarei nas letras
O sonho hoje jaz sem nuvem, sobe
Como o canto da desaparição.

Depois do sonho a gente esquece tudo...

Eu tenho um pássaro de eterno feto
Como o argiloso céu na mente é vivo
Eu gosto de café de coisa escura
Eu tenho um pássaro também germânico...

Depois do sonho a gente esquece tudo...

As águas cobrem o bigode, a família, Goiânia (Minha Itabira Celeste), tudo.

II
Duas convulsões

A carta melhor estaria dentro de uma garrafa a um esgoto os ratos a leriam sem os pés da deusa não sou boa gente grande não come assim eu faço seruus no es sed furcifer não falei pra parar de latim carros se desordenam com flechas ultrapassagem me lua a pétala de descosmogonia sem relógio não tenho horas para chegar em seu calcanhar sem Aquiles de duas fermatas uma em cada olho.

Olhei três relógios para os minutos,
Nenhum serviu, e assim eu andei bêbado,
Não quero mais ser feliz ou triste nada mais me importa,
Ignoro a pulseira de contas e alegorias nos seu tornozelo,
Mas e daí? Não me vendes pétalas de lágrimas ou sóis
Tampouco em seus beijos me dá o cavalo falecido
Daquele poema tão antigo que ninguém mais se lembra,

Não me importa mais os seus olhos de deusa por sobre estas palavras falantes,
Nem por sobre as mudas ou as árvores delas
Só me resta este relógio derretido já não mais visto
E visto esta realidade tão estrela para os prédios
Só não quero ter outra convulsão,

Perder o contato com o contato, e as luas sem noites para os olhos
O luto já não mais luta sobre o velório de ninguém
As flores estampadas em uma felicidade de plástico
Ninguém aqui amanheceu de sonâmbulo ou mosca
Me importa o silêncio do meu quarto, com o meu pássaro, uma ampulheta, bonecos infantis e alguns troços mais úteis,
Mas não me importa o final deste poema.
Só não quero ter outra convulsão,
Por favor, não outra convulsão,
Ou
Trás
Com
Vulcão.

Não quero já disse mas veja partes de uma mortalha a um esgoto meus goles coca-cola metafísis adeus em vão não voa porra balas não viram pós eu tenho estrelas de ser um pássaro vão olhei pra relógio meu bem baços de sagitários sem trevas de alunissagem me cai a lágrima com hipermetropia sem cabeça ferrenho outono pega-me o Sol sem despetalar sem os astros sem suas miragens sem a deusa ou sonho.

Marra Signoreli

3 comentários:

. disse...

gostei =}
sério.

Guilherme Toscano disse...

bom! muito bom! muito longe da complicação dos seus textos habituais... genial a segunda parte. parabéns, joão, você conseguiu.

O Idiota disse...

Um puta texto do caralho!